Descendo o rio Lima, ao longo da Serra do Soajo, encontramos numa encosta da sua margem direita, uma pequena aldeia já com alguns séculos de existência. Dista 20 km da sede do município, Arcos de Valdevez e tem 92 habitantes.
A pacata aldeia de Ermelo vive uma maior agitação quando, pela madrugada de 11 de Julho chegam grandes grupos de gente em peregrinação, vindos de várias freguesias do concelho de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca.
Na tardinha de 10 de Julho de cada ano (véspera de feriado Municipal), na vila de Arcos de Valdevez, depois de jantar, formam-se grupos alegres, principalmente de rapazes e raparigas, o que quer dizer que não se juntem igualmente uns punhados de gente mais idosa que, de maneira nenhuma, quer deixar de participar num hábito tradicional...
Começa a tradicional peregrinação...Alguns, para a caminhada, empunham bengalas; outros, bordões de caminheiros... Há, até, quem não esqueça o seu farnelzinho, indispensável para amenizar as agruras do trajeto...
Na venerada Igreja Românica, restos de um mosteiro grandioso que se levanta entre moradias que devem remontar ao princípio da nacionalidade, há também uma imagem de São Bento, o celebrado S. Bento de Ermelo a que todos os arcuenses são particularmente devotos. É uma graciosa imagem de madeira policromada e dourada, de feitura popular, que deve datar de uns duzentos anos a esta parte, sem dúvida nenhuma uma das mais tocantes imagens beneditinas do Alto Minho.
O povo institui-o o seu santo curandeiro para todos os “males ruins”, mas com especialidades curativas para essas incómodas excrescências na pele das mãos denominados “cravos”. Consta que os “cravos” nascem nas mãos de quem aponta e conta as estrelas ou os pontos luminosos que surgem de noite. O Senhor S. Bento (os santos, aqui, têm todos respeitosa senhoria...) é protetor contra essas malezas. Não só nos livra delas quando nos apoquentam como até, por sua intercessão, serve para nos livrar de tais tentações quando menos cuidadosos.
Em paga da tutela, o santinho paga-se em ovos (é tradicional assim dizer, confirmado por séculos de experiência...) e por essas lindas flores tão queridas do nosso povo, chamados “cravos”. As mulheres reservam-lhe exclusivamente os cravos de cor vermelha e os homens os de cor branca. É do rito. Exatamente como as “promessas” de cera: as promessas femininas distinguem-se porque são marcadas com uma pintinha de vermelhão; as dos homens com uma pinceladinha de azul celeste bem destacada...
Quanto aos ovos, as contas são também rituais: nunca menos de três, mas podem ser múltiplos de três: seis, nove ou uma dúzia, conforme a promessa ou a generosidade do “milagre” recebido.
A caminhada até ao Ermelo é dura e é de preceito fazê-la pelos velhos caminhos, tal como a fizeram já os pais, avós e os geraram a esses... Não vale a pena utilizar as estradas traçadas no século passado.
Partindo dos Arcos, os romeiros subiam a costeira, chegavam ao Alto de Morilhões, seguiam em direção do lagar do Castanheiro, Calçada do Proja, Coutada, Nª Sr.ª da Luz, Sr. dos Milagres, Gração, descia-se à volta do Rio (Lima), passava-se por debaixo de Vilarinho e chegava-se a Ermelo.
O devoto chega, dá as voltinhas prometidas (três, cinco, sete, nove, sempre em número ímpar), à volta da capela e da direita para a esquerda, reza-lhe e dispõe-lhe as oferendas. Depois, respeitosamente, tira-lhe o chapéu, persigna-se com ele, beija-o e torna a colocar-lho na cabeça. Cumprida a devoção, o regresso dos romeiros aos lares é facultativo quanto aos meios de locomoção. Depois da assistência à missa, usa-se geralmente a camioneta.
Local: Arcos de Valdevez